Um belo dia, como das outras
vezes, a menina escondeu-se no teatro, bem atrás das cortinas. O desejo de
pisar aquele palco imenso falou mais alto, de tal modo que quando os bailarinos
saíram, encheu-se de coragem e aventurou-se a subir. De tantas vezes que assistira
aos ensaios, sabia de cor os passos de cada coreografia. Descalça dançou com
graciosidade e leveza de movimentos, como se desde sempre o palco lhe
pertencesse e ela pertencesse ao palco, numa simbiose perfeita.
Enquanto a menina dançava como se
o tempo tivesse parado, alguém retornou ao palco e, deparando-se com aquela
pequena bailarina, vinda sabe-se lá de onde, o tempo também parou para ele.
Desta vez quem se escondia era o diretor, entorpecido com o maravilhoso bailado.De
súbito, das mãos do diretor caíram umas partituras e o eco fez a menina voltar
à realidade e estremecer ao se deparar com alguém que a olhava boquiaberto. Com
o susto, saiu a correr do teatro, enquanto o diretor corria atrás dela e tentava
falar-lhe. A menina foi-se esfumando pela rua abaixo e o pobre do diretor só
teve tempo de a ver entrar na porta de uma das casas, onde uma senhora de
semblante carregado a esperava.
De seguida, tentou falar com a mãe
usando de todos os argumentos para a convencer que a filha tinha um talento
inato para o ballet, mas em vão, pois a senhora nada queria saber de danças,
nem de nada que a desviasse dos seus objetivos. Resignado, não teve outro
remédio senão ir-se embora.
O diretor que era um homem alegre
e comunicativo, entrou no teatro pensativo e com um ar taciturno, ao que todos repararam
e cochicharam. Por ora guardaria para si, como um tesouro, a imagem daquela
pequena grande bailarina… Entretanto, a menina que fugira do teatro, sentia o
coração em sobressalto, pois só conseguia pensar que seu segredo havia sido
descoberto.
Mas algo inesperado estava
prestes a acontecer que mudaria o rumo dos acontecimentos, e muito em especial,
a vida da menina.
Alguns dias depois, havia um
grande alvoroço no teatro, tudo porque tinham recebido a notícia de que os seus
colegas que tinham ido dançar fora, haviam sofrido um acidente de viação.
-O que aconteceu? - Quem se
magoou? – Perguntavam os bailarinos, ansiosos. - E logo agora na véspera dum
espetáculo tão anunciado!
O diretor andava de um lado para
o outro sem saber o que pensar, ouvindo toda a ladainha que se fazia sentir no
palco. Só algumas horas mais tarde é que se puderam acalmar os ânimos com as
notícias boas notícias: os bailarinos estavam bem.
- Calma, calma! Não é grave! Apenas
a viatura é que não ficou em lá muito bom estado… nada que não se remedeie… – disse-lhes
o diretor, confiante.- Ao que parece tudo não passou de um tremendo susto - um
cão atravessou-se à frente do carro, provocando o despiste – comentava-se. A
maioria dos bailarinos apenas sofreu alguns arranhões, o problema é a principal
… Torceu um pé.
- Torceu um pé?! A principal?! E
agora?! O espetáculo é já daqui uma semana… - Repetiam os bailarinos com
apreensão nas vozes.
Para acalmar os ânimos, o diretor
deu um berro que ecoou pelo teatro, pelo que logo se fez sentir o silêncio.
Pediu que se acalmassem e que fossem ensaiando que ele iria fazer algo que já
deveria ter feito há algum tempo e que voltaria com boas notícias, assim o esperava…
Estória em Audio:https://www.youtube.com/watch?v=yVjFK5ow4cY&feature=youtu.be
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