A
pequena, grande bailarina
Era uma vez uma menina, um pouco
pequena para a idade, mas muito responsável e extremamente inteligente. Apesar
disso era muito humilde e afetuosa e, talvez por isso, vivesse rodeada de
amigos. Mas esta menina andava constantemente com a cabeça na lua. O seu maior
sonho era ser bailarina e como morava perto do teatro da cidade, sempre que
podia, no final das aulas, escapulia-se para lá. AÍ chegada, escondia-se o
melhor que podia e ficava a ver os ensaios, as coreografias, os passos,
envolvida numa neblina de sonho, cor e música. Depois corria para casa
esperando que não tivessem dado pela sua falta. A mãe sempre lhe recomendava
algumas tarefas que ela sabia bem não poder descurar. Para os seus pais o mais
importante, para além da escola, era aprender as tarefas domésticas. Sim,
porque uma mulher deveria saber cuidar da casa e da família, e à sua mãe
incumbia-lhe o dever de a ensinar.
- Mas mãe, eu quero mesmo é ser
bailarina! – Argumentava sempre que a mãe lhe ralhava por chegar tarde.
- Não te quero no teatro, já te
avisei! – Dizia-lhe a mãe, que bem sabia que a sua menina se perdia de amores
por aquele teatro e pelos bailados.
- Onde é que já se viu uma mulher
viver da dança?! – Alegava a mãe que não se conformava com aquela cabeça na
lua. Então, para a demover de tais ideias, dava-lhe tarefas e mais tarefas que
durariam todo o seu tempo livre – “uma cabeça ocupada não pensa em disparates”
- pensava ela.
No entanto, independentemente do
que a sua mãe lhe dizia, nada a demovia do seu sonho… À noitinha, no seu
quarto, em frente a um velho espelho, colocava uma saia e imitava os passos que
vira no teatro e que ela já tão bem sabia de cor. Aquele pequeno espaço era o
seu palco, um cubículo resguardado do resto do mundo onde, por alguns
instantes, ela era tudo o que o seu sonho o permitia: uma grande bailarina!
Mas o seu segredo não duraria
para sempre.